Daniel Campbell: sonhos cancelados novamente à espera de uma medula compatível

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“Após três meses sentindo dores de garganta, tendo hematomas, gengivite, gânglios inchados, minha mãe perguntando por que eu não queria fazer nada (apenas ficar deitado vendo filme), e tendo passado por alguns otorrinos, veio uma febre que não cedia por nada. Resolvi ir até a emergência de um hospital próximo a minha casa. Fui diagnosticado com sinusite, contudo já tive sinusite e senti que havia algo errado.

olho-depoimento-daniel-01No dia seguinte, retornei ao hospital e com um simples hemograma vi que estava tudo errado, leucócitos em 86 mil e plaquetas muito baixas. A médica pediu para buscar um hematologista, pois não sabia me explicar o que era. Na mesma noite, buscamos outro hospital e em julho de 2013 descobri que estava com Leucemia Mieloide Aguda (LMA).

Recebi a notícia deitado na maca, já no soro, nunca vou esquecer. As duas médicas e meus pais por trás delas. A médica se apresentou, falou meia dúzia de palavras e tudo que me lembro é dela dizendo: ‘Você tem leucemia, iremos tratar aqui mesmo’.  Quando eles saíram, desabei.

Nunca vou esquecer a voz dela, do sotaque dela, daquele momento. Receber a notícia que se tem câncer como se fosse uma gripe é cruel demais. Saí da emergência e fiquei 48 horas no Centro de Terapia Intensiva (CTI), praticamente sozinho, com minha mente tentando assimilar alguma coisa.

Conheci minha oncologista que me explicou como seria o tratamento e fiz minha primeira punção e biópsia da medula para confirmar a leucemia. Passei por cinco ciclos de quimioterapia ao todo.olho-depoimento-daniel-02

Ao descer do CTI para o quarto continuava sem chão. A primeira quimioterapia me derrubou de uma maneira que é ruim de lembrar. Foram sete dias direto. Dores infinitas que só morfina dava jeito.

Dores absurdas que me fizeram ficar quase uma semana sem comer. Minha mãe falava para apertar a mão dela quando doesse e eu tentava, mas era consumido pela dor a ponto de não conseguir apertar.

Ficava imóvel na cama na posição que doesse menos, mas não adiantava de nada. Perdi 11 quilos. Mas valeu a pena, pois ao final dela, minha medula tinha entrado em remissão e eu estava bem.

As quimioterapias seguintes foram bem mais tranquilas, de efeito colateral era enjoo e azia, mas só de não ter mais dor foi uma benção.

Tive alguns efeitos colaterais leves devido às outras medicações e conheci o Rivotril que me fazia dormir 10 horas por dia e me ajudava a encarar a rotina do hospital.

Comida de hospital é terrível e mesmo assim consegui ir de 79 para 97 quilos no final do tratamento, graças aos meus amigos e suas comidas ‘contrabandeadas’, autorizadas pela nutricionista do hospital, é claro. Minha única restrição era para alimentos crus devido à baixa imunidade.

olho-depoimento-daniel-03Nas duas últimas quimioterapias, tive que retornar às pressas para o hospital após ter tido febre. Como estava sem defesa do organismo, qualquer febre era um perigo. Numa dessas voltas, a febre não cedia e eu precisei de sangue. Virei um iceberg de tanto gelo que colocaram no meu corpo. Passei um dia fervendo em febre, com a sensação de que ia dessa para uma melhor.

Enfim, respondi bem ao tratamento e passei a levar uma vida normal.  Até que no dia 17 de abril desse ano, fiz um exame de rotina que mostrou que minhas plaquetas tinham caído muito e lá fui eu para mais exames.

Agora estou tendo que encarar a doença de novo, após achar que havia passado por cima, cancelando meus sonhos temporariamente. Só de saber que estava acontecendooutra vez, deu uma desanimada forte, tira as esperanças. O primeiro (segundo) momento da notícia tira nosso chão.

Dessa vez vim preparado para duas quimioterapias, aproximadamente dois meses de internação. Saber que teria que enfrentar outra vez não é fácil. Tento ser forte na medida do possível. E sei que sou. Graças ao apoio da minha família, amigos (velhos, novos, reais, virtuais).

Ver e sentir o carinho de todos é o que me faz ser cada vez mais forte, o que me faz ser cada vez mais confiante. E resolvi me expor e expor minha doença, pois só assim posso antecipar a minha cura que depende de apenas de alguns minutos da vida de vocês.”

Daniel Campbell, do Rio de Janeiro, está à espera de uma medula compatível

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